Mãe Morta, pai preso: Audiência Pública “Reflexos do Feminicídio” emociona deputadas e público presente

“Meu pai não soube lidar com o quão livre e feliz minha mãe poderia ser sozinha. Hoje meu pai está preso e a minha mãe, no céu”.

Esse foi o desabafo emocionado de Joabe Caldas, de 26 anos, que perdeu a mãe Rozélia Caldas assassinada pelo pai e pelo enteado em janeiro deste ano, em Araucária. A história de Joabe motivou as deputadas cantora Mara Lima (Republicanos), Luciana Rafagnin (PT) e Cloara Pinheiro (PSD) a realizarem a Audiência Pública “Reflexos do Feminicídio”, que reuniu vítimas da violência e especialistas na Assembleia Legislativa do Paraná.

Durante a audiência, o jovem estudante de psicologia relatou a dor de ser órfão do feminicídio e emocionou os presentes.

“Eu ainda estou de luto. Mas entendo que é muito necessário para que mais filhos não sofram. Não é mais sobre mim, sobre as minhas irmãs, porque o que aconteceu com a minha mãe não tem volta. Mas que outros casos sejam evitados, que todos entendam o quão grave é tudo isso, para conscientizar. Que os filhos cuidem das suas mães, porque é muito triste perder uma mãe”, desabafou.

Joabe e suas duas irmãs integram uma trágica estatística. Cerca de 2.500 crianças e adolescentes foram impactados pelo feminicídio no Brasil em 2022. Foram 1.423 feminicídios, um aumento de 6,1% em relação ao ano anterior, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Para a deputada cantora Mara Lima, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da mulher, todas as mulheres são vítimas em potencial e precisam ficar atentas aos sinais de violência. Citou como um triste exemplo a morte da cantora Gospel Sara Mariano: “Foi morta pelo marido que se dizia religioso, e por questão religiosa achou que deveria suportar esse casamento, e isso é intolerável! Tudo tem um limite de tolerância e o que aconteceu com Sara pode acontecer também com muitas mulheres cristãs”, afirmou.

Em depoimento emocionado, a deputada desabafou: “Eu hoje poderia ser uma vítima de feminicídio porque vi muitas vezes o meu pai com um revólver na cabeça da minha mãe. Tivemos a misericórdia de hoje podermos estarmos aqui, fomos poupados, mas também tenho experiência suficiente para dizer que também sou vítima da violência e por um triz não estaria aqui junto com os órfãos do feminicídio”, concluiu.

Ao final da audiência, Mara Lima reforçou a necessidade da instalação da CPI do Feminicídio, proposta pela deputada no início do mandato e que aguarda instalação. A sugestão é ampliar a abrangência dos trabalhos, transformando a comissão em “Frente Parlamentar de Combate ao Feminicídio no Paraná”.

Participantes da Audiência Pública:

Desembargadora do TJ/PR, Priscilla Placha Sá, que é professora adjunta de Direito Penal da PUC/PR (licenciada) e Direito Penal da UFPR. Coordenadora do Projeto Linguagens Feminicidas.

Desembargadora Ana Lúcia Lourenço, Coordenadora da CEVID (Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar) do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR).

Jackson Willian Bahls Rodrigues, advogado criminalista, representa as famílias das vítimas de feminicídios, Caso Suellen, Caso Rozelia entre outros.

Joabe Caldas, filho de Rozelia Maria Martins Caldas, assassinada pelo marido e pelo enteado em Araucária, em janeiro deste ano.

Gilmar Quintilhano, coordenador do Instituto Alice Quintilhano, que defende os Direitos de Mulheres Vítimas Diretas e Indiretas de Violência Doméstica, Feminicídio e Relacionamento Abusivo. Ele também é um orfão do feminicídio.

Jéssica Tonioti da Purificação – assistente de promotoria no Ministério Público do Estado do Paraná. Formada em direito e psicologia. Executora do Projeto de Acolhimento de Vítimas Diretas e Reflexas de Feminicídio.

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